Logo cedo, o pedido:
- Mãe...posso ir de sapatilha prá aula?
E a recusa:
- Não Lelê, só pode de tênis, você já sabe. É regra da escola.
Aí, antes de sair, resolvo colocar um casaco na mala dela só just in case. Ao abrir, o que vejo? A dita sapatilha. Respirei fundo e a chamei:
- Filha, você sabe que não pode usar esse sapato no colégio. É pra sua segurança, você não vai conseguir brincar no parque tranquila, nem correr, nem fazer educação física. É pra você não machucar seu pé.
Pronto. Sapatilha fora da mala e não se falou mais nisso.
Mas fiquei com a pulga atrás da orelha: afinal, aos oito anos é normal dar esses “perdidos” nos pais? Dar aquela trapaceadinha básica para conseguir o que quer? Ou, horror dos horrores, estamos cultivando algum tipo de comportamento delinquente sem saber?
Bati um papo com a psicóloga Ceres Alves de Araújo, da PUC-SP, especialista em comportamento infantil, e ela me tranquilizou: esse tipo de atitude nem sempre é sinal de encrenca. Depende da idade. Passada a primeira infância, a criança já luta pelos seus desejos e tenta descobrir meios - lícitos ou ilícitos - de alcançar o que quer. “Isso não significa uma transgressão em si, uma mentira, e nem pode ser tratado como crime”, explica a doutora Ceres. Só significa que ela está tentando dar um jeitinho. O seu jeitinho, diga-se.
Agora a parte dos pais: diante de uma “ocorrência”, é preciso esclarecer as regras, ensinar os porquês, ensinar a controlar os desejos. E, vale lembrar, ter regras é fundamental para que a criança se sinta amada e segura e para fortalecer sua autoestima. Sem isso, pode achar que os pais não se importam com ela.
Como nessa fase os pequenos ainda não têm ética pessoal, quem sabe o que é certo e errado são os pais. E cabe a eles deixarem isso claro. Tudo com calma e tolerância. “Na maioria das vezes isso já basta”, diz Ceres. Mas se o comportamento se torna muito frequente, aí é sinal de problema. Isso quer dizer que das duas uma: ou a criança está tentando chamar a atenção por algum motivo, ou não consegue conter seus próprios impulsos. Vale investigar. Até porque, logo mais, o tal pequeno entrará na adolescência, fase em que, na prática, as regras existem para ser quebradas. Imagine o moleque fazendo isso sem nem um pingo de peso na consciência.
Beijocas!
Gabi